terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Belém e os seus 400 anos



No artigo da semana passada, tratei das chuvas que angustiam não só o Sul e o Sudeste, mas também Belém. Esta Belém do Pará que no último 12 de janeiro completou 396 anos de fundação e que daqui a quatro anos será quatrocentona. Esta Belém que foi fundada em 1616, com o nome de Santa Maria de Belém do Grão Pará e que anos mais tarde, além de portal da Amazônia, tornar-se-ia a maior e a mais importante cidade do Norte do Brasil.
A mesma que, no início do século XX, foi apaixonadamente amada por Antônio Lemos, que, como intendente, cargo que se assemelha ao dos atuais prefeitos, sonhou em transformá-la numa “Paris n’América”, dotando-a de bondes elétricos que trafegavam sobre trilhos, instalados em ruas e avenidas calçadas de paralelepípedos, sendo, inclusive, uma das prime iras cidades brasileiras a contar com esse serviço de transporte coletivo; além de implantar o seu gasômetro e construir um forno crematório para cremar o lixo doméstico, que, aliás, era coletado regularmente, mesmo não havendo caçambas ou caminhões como hoje.




Essa era a Belém do início do século XX. A metrópole da Amazônia e que passou a ser conhecida, também, como a “cidade das mangueiras”, devido sua arborização ser feita com essa espécie vegetal, que, além da sombra e de um clima ameno, produzia também frutos à população carente.

Nessa época, o centro urbano de Belém terminava em S.Braz, onde Antônio Lemos fez construir aquele belíssimo mercado, em linhas neoclássicas, que, aliás, deveria ser melhor utilizado em atividades socioculturais e que, infelizmente, é pouco valorizado. E a partir dele, graças à visão daquele intendente, foi projetado e implantado o bairro do Marco, com ruas largas e identificadas com os nomes das batalhas da guerra do Paraguai, reservando-se, inclusive, uma quadra de floresta nativa para ser o bosque da cidade, o conhecido bosque “Rodrigues Alves”, hoje batizado de “jardim botânico”.


Mas, além da instalação dos bondes elétricos, gasômetro, forno crematório, da implantação do bairro do Marco juntamente com o bosque, Antônio Lemos ainda construiu várias praças, dentre elas a belíssima e única “Batista Campos”, planejando a partir dela, o bairro do Jurunas, cujas ruas, também largas, seriam identificadas com os nomes das tribos indígenas e que, hoje, lamentavelmente está sendo descaracterizado com a mudança da denominação de suas vias, como é o caso da travessa Apinagés que, agora, tem o nome de um falecido dono de supermercado que, a despeito de sua importância no mercado varejista, poderia ser homenageado de outra forma, porém nunca trocando o nome de uma via, como a travessa Apinagés, que existe com essa denominação há quase um século. Será que avaliaram os transtornos que isso causará aos seus moradores e a “nação jurunense”?...

Deixemos as vias do Marco homenageando as batalhas da guerra do Paraguai e as do Jurunas as tribos indígenas, até mesmo para que os jovens conheçam as batalhas da guerra do Paraguai e as tribos indígenas do Brasil, até porque a “cidade morena”, do saudoso cronista Edgar Proença, não pode ser mais descaracterizada do que já foi ao longo dos seus 396 anos de existência. Muito pelo contrário. Precisa é manter as tradições, como a das tacacazeiras nas esquinas (que estão desaparecendo); do cascalho, cuja venda era anunciada pelas batidas no triângulo de ferro; da venda do “quebra queixo”, do cuscuz e da tapioquinha molhada... Enfim, dessa Belém que daqui a 4 anos completará 400 anos de fundada e que não pode perder a identidade com o seu passado, com sua história.

É esta Belém que precisa ser amada por todos, como o foi pelo saudoso Antônio Lemos. Que precisa ser mais bem cuidada, não só pelo seu gestor, mas, também, por sua população, que precisa, ainda, ser orientada a não entulhar os canais, para facilitar a vazão das águas das chuvas, que, em vez de angustiar, deve trazer mais alegrias, em face do aumento da umidade que diminui o calor.





É esta Belém que precisa festejar os seus 400 anos, em 2016, com o seu trânsito fluindo sem grandes congestionamentos, seja no seu centro urbano ou nas vias de acesso a Icoaraci e aos municípios que integram a região metropolitana. Que seja...

Fonte: Publicado em O LIBERAL de 01/02/2012, 1º caderno, pág. 02

Nenhum comentário:

Postar um comentário