No final dos anos 70, pouquíssimas eram as cidades do Marajó que tinham energia da Celpa, e, mesmo assim, só das 18:00 às 24:00 horas. As outras, coitadas, tinham energia só para o jantar, das 18:00 às 21:00 horas, porque as prefeituras não tinham como manter os onerosos sistemas de geração de energia, que eram a base de motores estacionários à diesel.
Mas, com a inauguração da hidrelétrica de Tucuruí, em 1984, foi possível desativar as enormes usinas termoelétricas, a diesel, que abasteciam Belém, bem como as de Castanhal, Capanema, Bragança, Marabá e outras. E foi graças à desativação dessas termoelétricas, que a Celpa conseguiu economizar óleo diesel, dentro da cota que lhe cabia, e, assim, pode se instalar em outras cidades e aumentar o tempo de fornecimento de energia, onde já atuava.
Porém, em 1998, o projeto Tramoeste tornou-se realidade, com a construção do linhão que leva a energia de Tucuruí à Transamazônica e ao Oeste do Pará, coincidentemente, no mesmo tempo em que a Celpa foi privatizada. E foi graças a essa privatização, que todas as cidades do Pará passaram a ter 24:00 horas de energia, sendo que naquelas onde, ainda, não havia chegado a energia de Tucuruí, a geração termodiesel ficou a cargo da empresa “Guascor” e a distribuição à “Rede Celpa”.
É claro que isso foi um grande avanço. Todavia, o Marajó continuava sem energia firme e abundante para o seu desenvolvimento. E isso me levou a discutir, ainda, no ano 2000, a possibilidade de se levar a energia de Tucuruí a Portel e Breves, e depois para toda a Marajó, nascendo, assim, o sonho do linhão. E a primeira idéia era construí-lo a partir de Cametá, margeando o rio Pará, até Portel. Mas que, pelo seu alto custo, ficou inviabilizada. A segunda, foi construir o linhão a partir da chamada “parada do Bento”, na rodovia Transcametá, seguindo as estradas dos madeireiros até o alto rio Jacundá, de onde, após atravessá-lo, continuaria seguindo as estradas dos madeireiros até o rio Camarapí, de onde, atravessando-se os campos da natureza, chega-se facilmente à cidade de Portel .
Aprovado o trajeto, apelei ao governador Jatene para que o Estado bancasse a execução da topografia desse trecho, no que fui atendido de imediato, o que permitiu que os trabalhos de campo chegassem a Portel, ainda, em março de 2005. Enquanto isso, em Brasília, era aprovado o Plano Plurianual (PPA) do governo federal, tendo como uma de suas metas, na área de energia, a implantação da linha Cametá-Portel-Breves, graças a uma emenda de minha autoria.
Em 2005, como Presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, conversei com o então presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, sobre a construção do linhão do Marajó, mostrando-lhe, inclusive, que o mesmo já constava do PPA do governo federal e que o Estado havia financiado a topografia até Portel. E esses fatos deram àquele engenheiro, que dias depois tornar-se-ia Ministro de Minas e Energia, a importância desse linhão, o que o levou a criar uma engenharia financeira que desse suporte à obra, que ficaria a cargo da “Rede Celpa”, financiada, porém, pela Eletrobrás, com recursos oriundos da Reserva Global de Reversão.
E assim, depois de muitas idas e vindas, de invernos chuvosos, de reservas florestais criadas em meio ao seu traçado, eis que em junho passado o linhão de Portel foi concluído e energizado. Agora em novembro, foi concluído e energizado o linhão Portel-Breves. A linha Portel-Bagre está em obras e deverá ser energizada até o final do ano. E a linha Breves-Curralinho, que atenderá, também, a Vila do Piriá, deve estar pronta até março de 2012, juntamente com a linha Breves-Melgaço, concluindo-se, assim, a 1º etapa do linhão do Marajó. E a partir daí, a expectativa é o início das obras do linhão Breves-Anajás-Afuá. E eu, que me ufano de ser o inventor da idéia deste linhão e de quem o viabilizou institucionalmente, me festejo pelo que já foi realizado. E como marajoara que sou, parabenizo a Celpa pelo que já fez, até porque sei das dificuldades e dos desafios enfrentados na execução dessa obra, que atravessou inúmeras áreas de “igapós” que, sem dúvida, é difícil até de se caminhar, imagine fixar torres e postes.
Fonte: Publicado em O LIBERAL de 30/11/2011, 1º caderno, pág. 02
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