No artigo da semana passada, tratei a respeito da viagem da presidente Dilma à Europa e principalmente sobre o seu discurso na Bulgária, quando disse que "o Brasil poderia ajudar a Europa a sair da crise em que se encontra”, indagando, a seguir, de que maneira isso poderia ocorrer.
É claro que a fala da nossa presidente deve ser respeitada, até porque S.Exa., ao expressar-se dessa forma, deve tê-lo feito com a devida responsabilidade do cargo que ocupa. Contudo, entendo que o Brasil deve primeiro resolver os seus problemas, para depois, sim, preocupar-se com os problemas de outros países, estando ou não em crise. E listei alguns dos problemas que precisam ser resolvidos de imediato, como é o caso da saúde e da educação, sem esquecermos, é claro, da solução à logística de transporte (rodovias, ferrovias, portos e aeroportos), até mesmo para reduzir o chamado “custo Brasil” e tornar os produtos brasileiros mais competitivos nos mercados consumidores, da Europa e dos EUA.
É óbvio que o fato de se preocupar primeiro com os seus problemas e só depois com os dos outros, é, por todos os ângulos, um comportamento egoísta. Todavia, não era assim que os europeus tratavam o Brasil em épocas passadas? Quando era considerado um país subdesenvolvido do 3º mundo, e que, além de endividado, tinha uma alta inflação em sua economia?
Eu nasci na época do “cruzeiro”, que virou “cruzeiro novo” quando lhe tiraram três zeros; que depois voltou a ser novamente “cruzeiro”, que virou “cruzado”, que voltou a ser “cruzeiro” outra vez, que depois virou “cruzeiro real”, “URV” (unidade real de valor) e por fim “Real”. Perceba que foram oito tipos de moeda, com as quais convivi até agora, tudo em razão da chamada “inflação”, que corrói o dinheiro dos mais pobres e que só foi debelada em 1994 pelo “plano real” e que agora está querendo voltar novamente.
A inflação, que os jovens nascidos a partir dos anos 80 desconhecem, é, sem dúvida, o maior dos tributos que só os mais pobres pagam, até porque os salários são corrigidos uma vez a cada ano. E numa economia inflacionária, o salário só tem valor real no primeiro mês, após a correção. No mês seguinte, o salário já vale X-Y. No outro mês vale X-(Y+Z) e assim por diante. Já os ricos aplicam o seu dinheiro nos bancos e os juros corrigem a inflação. Não há perda. E assim, o pobre fica cada vez mais pobre e o rico cada vez mais rico.
Infelizmente, hoje, muitos batem palmas por receberem as chamadas bolsas famílias e se esquecem de bater palmas pelo fim da inflação nos anos 90. É uma pena. Até porque, na época do governo Sarney, quando o Brasil viveu um período de hiperinflação, quando as “maquininhas” remarcavam os preços dos produtos a cada hora, nos supermercados, havia governantes que aplicavam a receita bruta dos seus estados no “over-night” dos bancos. E só com os juros, pagavam o salário do mês dos servidores dos seus estados, que, de 6 em 6 meses, se iludiam com o aumento salarial que lhes havia sido dado.
É essa inflação que está ameaçando voltar. E como os jovens de hoje só sabem o que é inflação pelos livros, até porque não viveram as agruras dos anos 80 e 90, imaginam que é mais uma “marola” que vai passar sem grandes estragos. E não é bem assim. Aliás, como seria bom se fosse. Mas, infelizmente não o é. E a prova disso é que a economia brasileira deu claros sinais de desaceleração, uma vez que até junho, imaginava-se que o Brasil teria um crescimento de 4,5% do PIB, em 2011. Em agosto, porém, esse prognóstico caiu para 4%. Em setembro ficou entre 3,5 à 4% e em outubro de 3,0 à 3,5 do PIB. Daí a queda dos juros do Banco Central em 0,5%. E tudo estaria correto, na avaliação dos analistas, se a inflação recuasse, coisa que infelizmente não está acontecendo. E basta ir ao supermercado para sentir o aumento nos preços de todos os produtos.
Não sou economista. Mas o que me preocupa, é que são os próprios economistas que estão assustados com a alta da inflação. E não poderia ser diferente, até porque ela desarruma a economia doméstica das pessoas e da Nação como um todo. E é por isso que essa “peste” precisa ser debelada, até mesmo para que o Brasil possa efetivamente posar de potência econômica emergente para o mundo. E que assim seja.
Fonte: Publicado em O LIBERAL de 19/10/2011, 1º caderno, pág. 02
Nenhum comentário:
Postar um comentário