terça-feira, 18 de outubro de 2011

A viagem da presidente



Na semana passada, a presidente Dilma esteve na Europa em visita a Bulgária e a Turquia. E é evidente que uma viagem como essa, de uma chefe de Estado e também chefe de governo, como é o caso da presidente Dilma Rousseff, deve ser revestida de todos os cuidados, sobretudo da diplomacia, uma vez que S.Exa., ao se pronunciar em qualquer país, fala em nome do povo brasileiro, como Chefe de Estado, e, também, em nome do seu governo.

É óbvio que em tais circunstâncias todo cuidado é pouco, até para que a nossa presidente não cometa nenhuma gafe, seja diplomática ou protocolar, mesmo que a viagem tenha um caráter particular, como foi o caso da visita a cidade onde seu pai nasceu e viveu até a década de trinta, quando imigrou para o Brasil e aqui constituiu família, e de cujo relacionamento nasceu a nossa atual presidente.

É claro que essa viagem da presidente Dilma foi oportuna, não só pela oportunidade de conhecer a terra de seu pai e dos seus familiares paternos, mas, principalmente, pelo momento de crise porque passa a União Européia. Daí a recepção acalorada na Bulgária, que certamente não se deu, apenas, pelo fato de ela ser filha de um búlgaro, mas, sim, por ser Chefe de Estado de uma das Nações mais populosas do planeta e cuja economia está arrumada, desde a implantação do quase esquecido “plano real”. E não por acaso, a nossa Presidente era sempre citada, nos noticiários dos jornais, como sendo uma das mulheres mais poderosas do mundo e não poderia ser de outra forma, até porque é a líder de mais de 190 milhões de brasileiros.

É certo que essa viagem foi perfeita. Seja pelo aspecto protocolar e diplomático. Seja pelo aspecto do comércio exterior, principalmente por abrir as portas para as empresas brasileiras atuarem naquele país amigo, agora meio familiar. Contudo, preocupou-me a fala da presidente na Bulgária, diante do primeiro-ministro, ao dizer que o “Brasil pode ajudar a Europa a sair da crise financeira em que se encontra”...


É claro que a presidente Dilma ao dizer isso, deve tê-lo feito com a devida responsabilidade do cargo que ocupa. Mas, de que forma o Brasil poderia ajudar a Europa a sair da crise? Seria utilizando parte das nossas reservas cambiais, que hoje ultrapassam 365 bilhões de dólares, na compra de títulos podres dos bancos falidos da Europa? Ou se emprestaria parte dessas reservas a países como a Grécia e Portugal, que estão literalmente falidos? Ou a Eletrobras compraria o controle acionário da empresa de eletricidade de Portugal, que está à venda? Ou o Brasil compraria a TAP-Transportes Aéreos de Portugal?...

Como brasileiro, discordo de todas essas possibilidades. E poderia até concordar, se a nossa educação e saúde pública fossem um exemplo para o mundo. Se as nossas rodovias federais estivessem todas bem pavimentadas, oferecendo um trafego seguro e tranquilo aos seus usuários. Se os nossos portos fossem os mais modernos do mundo. Se os nossos aeroportos, sejam os internacionais ou os domésticos, tivessem um funcionamento perfeito e sem reclamações. Se tivéssemos um sistema de transporte ferroviário, condizente com o tamanho do Brasil. Se as operadoras do sistema de telefonia móvel celular, prestassem um serviço de melhor qualidade aos seus usuários. Se a internet funcionasse a contento em todos os municípios. Enfim, se todos esses problemas estivessem resolvidos, até poderíamos concordar em ajudar a Europa. Mas do jeito que estão?... É impossível.

Pode até parecer egoísmo da minha parte. Mas como ajudar a Europa e não se pavimentar a Transamazônica e a BR-163, cujas obras são esperadas há 40 anos? E as rodovias do Nordeste e do Centro-Sul, que estão esburacadas e que causam acidentes quase todos os dias?

De qualquer forma, acho que o Brasil não pode posar de superpotência econômica, enquanto os seus problemas internos continuarem insolúveis. É certo que estamos muito melhor que no passado, graças ao sucesso do Plano Real. Contudo ainda temos muito o que fazer internamente. Muitos desafios a enfrentar, como a melhoria da nossa logística de transporte, até mesmo para diminuir o chamado “custo Brasil”. Que se caminhe nessa direção. E deixemos a Europa para os europeus.


Fonte: Publicado em O LIBERAL de 12/10/2011, 1º caderno, pág. 02

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