terça-feira, 4 de outubro de 2011

Belo Monte e as usinas poluidoras


Na semana passada estive no Recife proferindo uma palestra sobre a “Amazônia, suas hidrelétricas e os desafios para o seu desenvolvimento”, no 15º Encontro Nacional das Associações de Imprensa, que ocorreu naquela cidade, em meio aos festejos dos 80 anos da Associação de Imprensa de Pernambuco.


É evidente que, para mim, é sempre muito prazeroso falar desse tema, especialmente para uma platéia constituída por jornalistas de todo o País, e num estado, como Pernambuco, cuja história se confunde, em muito, com a do Brasil, notadamente no período da Independência e da implantação do 1º Império, quando, segundo dizem, numa represália do Imperador D.Pedro I, parte do seu território foi desmembrado para ser anexado a então província da Bahia e duas outras para formarem as então províncias da Paraíba e de Alagoas. Tudo em razão de Pernambuco desejar ser uma república independente. E, assim, antes de falar das hidrelétricas da Amazônia e dos desafios para o seu desenvolvimento, disse da minha alegria de estar ali, na terra de dois padres revolucionários, que, ao longo do temp o, incendiaram o Brasil com as suas idéias: Frei Caneca – o sonhador da República de Pernambuco e Dom Helder Câmara – o pregador de um mundo sem miséria e de um país com liberdade e sem censura, sem nenhuma alusão aos tempos atuais.

Em seguida, passei a discorrer sobre o tema proposto, sendo que, no final, referindo-me ao noticiário do jornal “Folha de Pernambuco”, daquele dia 14 de setembro de 2011, lamentei o fato do governador Eduardo Campos, de Pernambuco, ter festejado a assinatura de um protocolo de intenções com a empresa “Star Energy Participações“, do Grupo Bertin, para a instalação de uma gigantesca termoelétrica movida a diesel, no complexo industrial do Porto de Suape, com capacidade de 1.542 megawatts de energia, o suficiente para atender todo o Recife e a sua região metropolitana. E o meu lamento, expliquei, era em razão de o Brasil, como havia mostrado na palestra, dispor de um fantástico potencial hidrelétrico na Amazônia e em particular no Pará, e, mesmo assim, se ver obrigado a recorrer a termoelétricas à diesel para gerar a energia de que precisa para garantir o seu desenvolvimento. E complementei: É óbvio que o Governador Eduardo Campos, até pela responsabilidade do cargo que ocupa, deve festejar o fato de ver resolvido o problema da carência de energia em seu estado, até porque é impossível se desenvolver sem energia. Contudo, até mesmo por ser inteligente, deve estar constrangido, uma vez que termoelétrica a diesel, além de gerar energia cara, é altamente poluidora. E isto sem falar que a sua fabricação gerou empregos e impostos lá fora, no estrangeiro, restando para o Brasil, apenas, o excessivo consumo do óleo diesel e a poluição. E pensar que tudo isso se deve, apenas, a demora do início das obras de Belo Monte...


Mas o estranho, continuei, é que não vi nenhuma manifestação dos ambientalistas, dos tais defensores do meio ambiente, que são contra a implantação de Belo Monte e de outras hidrelétricas na Amazônia, e, ao que parece, são favoráveis a instalação dessa termoelétrica. Aliás, será que os “defensores do meio ambiente”, sabem da quantidade de óleo diesel que a termoelétrica de “Suape”, com potência de 1.542 megawatts, vai consumir por dia? E de quantas toneladas de CO2 (gás carbônico) serão jogadas na atmosfera, poluindo o ar que todos respiram? Não seria um paradoxo ou até mesmo um contra-senso, esses “ambientalistas” serem contra a construção de Belo Monte e ficarem quietos diante da instalação da gigantesca termoelétrica de “Suape”? Principalmente quando l á já estão em funcionamento duas termoelétricas: a “Termopernambuco” (513mw) e a “Suape Energia” (380 mw)? E ninguém grita? Ninguém protesta?... E concluí apelando aos jornalistas para que analizem esses fatos e avaliem melhor o comportamento desses “ambientalistas” que se utilizam de “dois pesos e duas medidas”, até porque é um absurdo serem contra a construção de hidrelétricas (que geram energia limpa e renovável) e a favor da instalação de termoelétricas à diesel, que são altamente poluidoras e geram energia caríssima.



Fonte: Publicado em O LIBERAL de 21/09/2011, 1º caderno, pág. 02

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