quarta-feira, 28 de março de 2012

O poder de cada qual


Na Grécia antiga houve um filósofo, de nome Aristóteles, que definiu política como sendo “a arte da busca permanente das soluções para os problemas do povo”.

O tempo passou. E essa definição sobre política perpetuou-se, passando pelo chamado período das “trevas”, como dizem os historiadores e chegou ao “iluminismo”, época em que as pessoas despertaram para novas idéias, que eram debatidas nos “cafés” e “salões” de Paris e em meio ao povo, que se encantava com a tese, oriunda da Maçonaria, sobre a liberdade, igualdade e fraternidade entre os homens, e, ainda, a de que o poder poderia nascer do povo e em seu nome ser exercido, em favor do mesmo povo.

Mas, em meio a essa ebulição de idéias, havia uma outra tão fantástica quanto as demais e que, a rigor, as completava: a da democracia. E essa era tão notável que Rousseau – o seu maior filósofo, refletindo sobre ela concluiu: “se houvesse um povo de Deuses, governar-se-ia democraticamente. Um governo tão perfeito não é próprio dos homens”.


É óbvio que para alguns, essas novas idéias não passavam de utopia. No entanto para outros era uma revolução. De início, uma revolução do pensamento filosófico, mas que, com o passar do tempo e estimuladas pela fome de alimentos, ganharam eco e levaram o povo a promover a maior e a mais importante das revoluções da história da humanidade – a revolução francesa. Não só por que o rei e a rainha da França foram decapitados na guilhotina, juntamente com toda a sua Corte, mas porque, a partir dela, o mundo mudou, graças à consolidação e disseminação das idéias de democracia e de república.

Todavia, e por razões das mais diversas, a tão sonhada república não vingou na França. E Napoleão Bonaparte, em nome da ordem e da disciplina, restaurou a monarquia e tornou-se imperador.

Contudo, a idéia de um “governo do povo, para o povo e pelo povo”, num sistema onde os poderes fossem independentes entre si e que tivesse como regra a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre as pessoas, atravessou o Atlântico, e, do outro lado do mundo, fez surgir os Estados Unidos da América do Norte, cuja democracia e estrutura de Poder servem de modelo, até hoje, para muitas repúblicas democráticas.


Mas, em meio a todo esse processo de evolução política porque passou a humanidade, muitos estudiosos, apesar de concordarem com a definição aristotélica, entendem que política é, também, “a arte da convivência dos contrários”; e, mais modernamente, “a arte dos debates das idéias”.

É óbvio que, apesar de concordar com a definição de Aristóteles, não posso resistir à idéia de que política, além de ser “a arte da convivência dos contrários”, é, também, “a arte dos debates das idéias”; até porque é no debate das idéias que é possível, efetivamente, surgirem as soluções para os problemas do povo, dos países e do mundo.

Certo está, portanto, Aristóteles, que, lá na Grécia antiga, enxergou a política como sendo uma arte de busca permanente da solução dos problemas do povo; como certos estão, também, os que entendem que é no debate das idéias que surge a luz para os novos caminhos do mundo.

Como se vê, a política foi, é e sempre será o instrumento de transformação da sociedade, que poderá ser para melhor ou para pior, depende apenas da gente. De cada um, para ser mais preciso.

Seja como for, por pior que as coisas possam parecer, o que não pode acontecer, são as pessoas perderem a capacidade de indignarem-se diante dos fatos e de reagirem através do debate das idéias. Aliás, foi dessa forma que nos anos oitenta derrubou-se o regime militar, e, no início dos anos noventa, cassou-se o mandato do Presidente Collor. Em ambos os casos, não foi dado nenhum tiro. Apenas utilizou-se o poder do verbo, da fala, no debate das idéias e da arte do convencimento das pessoas.

Esse é o caminho, a meu ver. E que os jovens de hoje, como antigamente, voltem a fazer política, debatendo os problemas brasileiros nos grêmios estudantis, nos diretórios acadêmicos e até bar da esquina, se for preciso. Discutindo, por exemplo, um novo pacto federativo para o Brasil, a atrofia dos Poderes da República, a deficiência do SUS nos municípios, a estrutura curricular do ensino e a infraestrutura de transporte.

Fonte: Publicado em O LIBERAL de 14/03/2012, 1º caderno, pág. 02

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