terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Uma avaliação de 2011


Chegamos ao final de mais um ano. E numa rápida avaliação sobre o que aconteceu em 2011, não há dúvidas de que uma das piores coisas foi a fragorosa derrota do Santos para o Barcelona, no campeonato mundial de clubes, principalmente pelo fato do Neymar, o nosso mais notável atleta da atualidade, ter dito que, naquele jogo, “aprendemos a jogar futebol”.
Mas logo o Santos, de Pelé, que foi bicampeão mundial de clubes nos anos 60 e que era a máquina de fazer gols?... O pior é que foi verdade e o Neymar estava certo. De fato o Santos, naquele jogo, assistiu ao Barcelona jogar e viu como se deve jogar futebol. Aliás, não só o Santos, mas o Brasil como um todo. E isso, certamente, foi uma enorme frustração para todos os brasileiros, que sempre tiveram orgulho do seu futebol pentacampeão do mundo.


Mas eis que, numa gozação do destino, uma empresa de pesquisa econômica de Londres anunciou, nesta semana, que a economia brasileira havia superado a britânica e que era a 6ª maior economia do mundo, ficando atrás, apenas, dos EUA, China, Japão, Alemanha e França. E isso levou os jornais ingleses a comentarem que o Brasil, que sempre superou a Inglaterra no futebol, pela primeira vez supera o Reino Unido na economia, que passou à 7ª posição no ranking mundial.

É claro que esse fato, até por ser emblemático, foi noticiado com euforia pelo governo, apesar de não se fazer nenhuma alusão ao Plano real, ao Proer e à Lei de Responsabilidade Fiscal, da era FHC e que, no fundo, são os responsáveis pelo “aparente” sucesso da economia brasileira nos tempos atuais. E dissemos “aparente”, porque a conquista da 6ª posição pelo Brasil, dentre as maiores economias do mundo, é muito mais em razão da crise que afeta a Europa, desde 2008, que pelo desempenho da nossa economia, que, a bem da verdade, continua com sérios problemas de infraestrutura, especialmente na logística de transporte . Isto sem falar das famosas reformas estruturantes que se arrastam no Congresso Nacional. E neste aspecto, merece justiça o Ministro Mantega, da Fazenda, que, em entrevista, procurou minimizar a euforia, dizendo que o Brasil terá que crescer uns 20 anos, seguidos, para atingir uma renda per capta semelhante à da Europa e efetivamente participar do grupo seleto dos chamados países ricos. E para isso, é evidente, temos que investir muito mais em educação, saúde e especialmente em rodovias, como a Cuiabá-Santarém (BR-163) e a Transamazônica (BR-230). A primeira, cujas obras de pavimentação estão paradas, para dar utilidade ao porto de Santarém que é subutilizado; e a segunda, por causa das obras da hidrelétrica de Belo Monte. Mesmo assim, mais um ano se passou e a pavimentação dessas rodovias federais continua sendo, apenas, um grande sonho. Aliás, um sonho acalentado há 40 anos. E isto sem falarmos das rodovias Transcametá, que liga Tucuruí à Cametá e da Bragança-Vizeu, que foram federalizadas e que são estradas de chão.

É certo que o Santos Futebol Clube frustrou a sua torcida por não ter conseguido jogar contra o Barcelona, que tem um jogo rápido e bonito e que, inegavelmente, é um espetáculo à parte, mas que joga um futebol objetivo e sem nhémnhémnhém. Daí a facilidade de fazerem gols. E o governo federal frustra os brasileiros da Transamazônica e da Cuiabá-Santarém, por quê? Se somos a 6ª maior economia do mundo e se disponibiliza bilhões de dólares ao FMI e à Europa, por que não se pavimenta essas rodovias?...

De que adianta posarmos de ricos perante o mundo, perdoando dívidas de países pobres e emprestando-se dinheiro ao FMI e à Europa, se as nossas estradas não são pavimentadas? Como é o caso da BR-163, da BR-230 e de muitas outras?

O Neymar disse que o Santos “aprendeu a jogar futebol com o Barcelona” E o Brasil, quando vai aprender com a Europa a cuidar das suas rodovias, que são autoestradas e muito bem pavimentadas? Quando?

De que adianta termos a sensação de que somos ricos, se vivemos mau? Neste caso, é melhor estarmos empobrecidos, como os países europeus, mas ter o conforto e a segurança de suas rodovias bem pavimentadas.

Feliz 2012 a todos. E que o governo do Brasil aprenda com o Barcelona a ser prático, objetivo e sem nhém nhém nhém. E aí faz-se o gol.
Fonte: Publicado em O LIBERAL de 28/12/2011, 1º caderno, pág. 02

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