No século XVIII, D. Maria I, a rainha de Portugal, soube que existia no Brasil um rio grande, de águas verde-escuras, que nascia no centro da Colônia e desaguava no rio Amazonas, e que muito embora fosse um rio, na verdade eram dois rios.
É claro que uma informação como esta, além de estranha, era muito difícil de ser compreendida por D. Maria I, cuja loucura estava em franca evolução. Contudo, Sua Majestade determinou a um Padre alemão, que já lhe havia feito alguns serviços especiais, que fosse até a Colônia averiguar a existência daquele estranho rio.
Assim sendo e após chegar à foz do “rio-mar”, o padre subiu aquele rio de águas barrentas até o segundo grande afluente a sua esquerda. Ao identificar o rio das águas verde-escuras, adentrou rumo as suas nascentes a fim de descobrir o mistério que tanto incomodava a rainha. E assim, após passar por onde hoje é a cidade de Porto de Moz e depois Souzel, a atual cidade de Senador José Porfírio, deparou com uma grande cachoeira, intransponível, o que o levou a contorná-la chegando ao local da atual cidade de Vitória do Xingu; de onde, sempre apoiado pelos índios, caminhou por uma vereda, que hoje é a rodovia PA-415, até um igarapé de água muito fria e que desaguava num rio grande, também de águas verde-escuras e que corriam num sentido semelhante ao do outro rio que havia abandonado.
Ao perceber a semelhança da água, o padre decidiu navegar rio abaixo até encontrar a grande cachoeira, desta feita pelo alto. Regressando, instalou-se num monte alto, onde hoje é o quartel do batalhão do Exército, de onde teve uma visão privilegiada de toda a volta grande daquele rio, e, por óbvio, concluiu que os dois rios na verdade era um só. E que a enorme queda d’água mostrava, apenas, que o trecho de cima estava numa altura superior em relação ao trecho de baixo. Daí, segundo um livro que trata da história de Altamira, da escritora Vânia Figueiredo, aquele padre teria enviado à rainha a seguinte carta: “Saiba V. Majestade, que desta alta-mira onde me acho, vislumbro a volta grande desse grande rio, de águas verde-escuras, que, como lhe disseram, muito embora seja o mesmo curso d’água, na verdade são dois rios, o rio de cima e o rio de baixo que se encontram numa cachoeira que os índios chamam de Kararaô...”
É óbvio que não sei se essa carta foi efetivamente escrita, no entanto comenta-se que da expressão “desta alta-mira em que me acho...” teria surgido o nome Altamira, que mais tarde seria a toponímia daquela cidade pólo do Xingu e da Transamazônica
Seja como for, o certo é que aquele Padre alemão não estava de todo errado ao dizer que havia o rio de cima e o rio de baixo. Na verdade, muito embora o Xingu seja um único rio, possui topografias diferentes, entre a parte de cima e a parte de baixo. Para um melhor entendimento: o Xingu de cima está a 92 metros de altura, em relação ao Xingu de baixo. E a queda d’água é a cachoeira de Belo Monte, que no passado era conhecida por Kararaô.
Porém, o Xingu de cima não se diferencia do Xingu de baixo apenas pela topografia. Na verdade existem muitas outras diferenças, principalmente em relação aos animais aquáticos existentes na parte de baixo, que não existem na parte de cima e vice-versa. Por exemplo: No Xingu de baixo tem tartaruga, boto, peixe-boi, pirarucu, pirapitinga, dourado e mapará, que não existem na parte de cima. Já no Xingu de cima existe o pacu de seringa, que é um peixe que só existe ali. Aliás, segundo dizem, só existe no rio Xingu de cima.
Considerando que o PH e o plancto é o mesmo em toda a extensão do rio, penso que os animais aquáticos do Xingu de baixo não passam para o Xingu de cima, porque a cachoeira de Belo Monte os impedem. Ademais, o Xingu de cima é cheio de pedras, e as tartarugas e os peixes da parte de baixo não se adaptam as águas agitadas das corredeiras. Daí a desnecessidade de se construir a “escada para peixes”, na barragem de Belo Monte, uma vez que a piracema do Xingu de baixo ocorre nas nascentes dos igarapés do Xingu de baixo e não nas cabeceiras do Xingu como alguns pensam, onde, aliás, ocorre a piracema, a penas, dos peixes do Xingu de cima.
É por isso que o Xingu é um rio peculiar, único, e que os ambientalistas precisam conhecê-lo ainda melhor.
Fonte: Publicado em O LIBERAL de 02/05/2012, 1º caderno, pág. 02
É claro que uma informação como esta, além de estranha, era muito difícil de ser compreendida por D. Maria I, cuja loucura estava em franca evolução. Contudo, Sua Majestade determinou a um Padre alemão, que já lhe havia feito alguns serviços especiais, que fosse até a Colônia averiguar a existência daquele estranho rio.
Assim sendo e após chegar à foz do “rio-mar”, o padre subiu aquele rio de águas barrentas até o segundo grande afluente a sua esquerda. Ao identificar o rio das águas verde-escuras, adentrou rumo as suas nascentes a fim de descobrir o mistério que tanto incomodava a rainha. E assim, após passar por onde hoje é a cidade de Porto de Moz e depois Souzel, a atual cidade de Senador José Porfírio, deparou com uma grande cachoeira, intransponível, o que o levou a contorná-la chegando ao local da atual cidade de Vitória do Xingu; de onde, sempre apoiado pelos índios, caminhou por uma vereda, que hoje é a rodovia PA-415, até um igarapé de água muito fria e que desaguava num rio grande, também de águas verde-escuras e que corriam num sentido semelhante ao do outro rio que havia abandonado.
Ao perceber a semelhança da água, o padre decidiu navegar rio abaixo até encontrar a grande cachoeira, desta feita pelo alto. Regressando, instalou-se num monte alto, onde hoje é o quartel do batalhão do Exército, de onde teve uma visão privilegiada de toda a volta grande daquele rio, e, por óbvio, concluiu que os dois rios na verdade era um só. E que a enorme queda d’água mostrava, apenas, que o trecho de cima estava numa altura superior em relação ao trecho de baixo. Daí, segundo um livro que trata da história de Altamira, da escritora Vânia Figueiredo, aquele padre teria enviado à rainha a seguinte carta: “Saiba V. Majestade, que desta alta-mira onde me acho, vislumbro a volta grande desse grande rio, de águas verde-escuras, que, como lhe disseram, muito embora seja o mesmo curso d’água, na verdade são dois rios, o rio de cima e o rio de baixo que se encontram numa cachoeira que os índios chamam de Kararaô...”
É óbvio que não sei se essa carta foi efetivamente escrita, no entanto comenta-se que da expressão “desta alta-mira em que me acho...” teria surgido o nome Altamira, que mais tarde seria a toponímia daquela cidade pólo do Xingu e da Transamazônica
Seja como for, o certo é que aquele Padre alemão não estava de todo errado ao dizer que havia o rio de cima e o rio de baixo. Na verdade, muito embora o Xingu seja um único rio, possui topografias diferentes, entre a parte de cima e a parte de baixo. Para um melhor entendimento: o Xingu de cima está a 92 metros de altura, em relação ao Xingu de baixo. E a queda d’água é a cachoeira de Belo Monte, que no passado era conhecida por Kararaô.
Porém, o Xingu de cima não se diferencia do Xingu de baixo apenas pela topografia. Na verdade existem muitas outras diferenças, principalmente em relação aos animais aquáticos existentes na parte de baixo, que não existem na parte de cima e vice-versa. Por exemplo: No Xingu de baixo tem tartaruga, boto, peixe-boi, pirarucu, pirapitinga, dourado e mapará, que não existem na parte de cima. Já no Xingu de cima existe o pacu de seringa, que é um peixe que só existe ali. Aliás, segundo dizem, só existe no rio Xingu de cima.
Considerando que o PH e o plancto é o mesmo em toda a extensão do rio, penso que os animais aquáticos do Xingu de baixo não passam para o Xingu de cima, porque a cachoeira de Belo Monte os impedem. Ademais, o Xingu de cima é cheio de pedras, e as tartarugas e os peixes da parte de baixo não se adaptam as águas agitadas das corredeiras. Daí a desnecessidade de se construir a “escada para peixes”, na barragem de Belo Monte, uma vez que a piracema do Xingu de baixo ocorre nas nascentes dos igarapés do Xingu de baixo e não nas cabeceiras do Xingu como alguns pensam, onde, aliás, ocorre a piracema, a penas, dos peixes do Xingu de cima.
É por isso que o Xingu é um rio peculiar, único, e que os ambientalistas precisam conhecê-lo ainda melhor.
Fonte: Publicado em O LIBERAL de 02/05/2012, 1º caderno, pág. 02
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