quarta-feira, 28 de março de 2012

Sonho de liberdade



No Liberal de 16/02/2011 escrevi um artigo intitulado “O poder da internet”, comentando sobre o poder dessa ferramenta, que, aliada ao celular, foi capaz de arregimentar o povo egípcio e o da Tunísia para protestarem contra os governos de seus países. E, apesar da violenta repressão, não desistiram da luta e resistiram até a queda dos governantes, que, aliás, estavam no poder há décadas.

O inusitado, e comentei isso no referido artigo, é que naquelas manifestações de protestos não havia líder. Era apenas um sentimento de revolta da própria população, que não aceitava mais o status-quo. E o convite às manifestações era feito via celular ou internet. Daí a dificuldade à transição, vivida no Egito e na Tunísia.

Mas o incrível, é que mesmo no “mundo árabe”, a idéia do protesto, através de manifestações populares, convocadas via celular ou internet, proliferou-se de tal forma pelos outros países do Oriente Médio, que parecia ser uma orquestração, um efeito dominó; daí a denominação de “primavera árabe”, dada pelos jornalistas, por entenderem que aqueles povos, coletivamente, estariam clamando por democracia, na forma como é conhecida no Ocidente.


O importante é que após a derrubada dos ditadores da Tunísia e principalmente o do Egito, o povo árabe tomou coragem e acreditou ser possível derrubar os seus ditadores. E assim, tempos depois, o povo líbio foi tomando o controle da Líbia até a captura do lendário Kadafi.

É claro que na Líbia o povo teve a ajuda da ONU, que aprovou uma operação militar da OTAN e que em muito ajudou a derrubada do Kadafi. E na Síria, porque a ONU não toma uma decisão semelhante? Porque a China e a Rússia vetaram a resolução do Conselho de Segurança? Por acaso os sírios são menos humanos que os líbios? Ou a diferença está no volume de petróleo existente em cada país? Seja como for, algo precisa ser feito, já, para acabar com aquele massacre de mulheres e crianças.

Mas, quem poderia imaginar, em tempos outros, que um dia o povo árabe, sempre muito submisso, reagisse a ponto de se rebelar contra os seus próprios governantes? Quem?!...

Ontem foi a Tunísia e o Egito. Depois foi a Líbia. Hoje é a Síria lutando para derrubar o seu ditador. E amanhã? Movimentos há na Arábia Saudita, Kuwait e em vários outros países. É a “primavera árabe” que, na prática, despertou esses povos para as suas cruas realidades.


Mas, o que querem essas populações do chamado mundo árabe? Democracia? Como é exercida no mundo Ocidental? Creio que não! O que eles querem é liberdade. Liberdade de pensar. Liberdade de agir. E respeito ao direito de viverem como acharem melhor. Democracia, no meu modo de ver, é um pouco mais sofisticado. Não é só liberdade. E Rousseau, o grande pensador da democracia, que o diga. Contudo, mesmo que eles não pensem em democracia, até porque não é da sua história, já valeu a luta pela liberdade, não só porque é um avanço para a democracia, mas porque é uma dádiva de Deus, o grande arquiteto do universo.

Porém, quando falamos da luta dos árabes por mais liberdade, para que no futuro possam viver em democracia, é bom lembrar que numa ilha da América Central, tem um povo que também luta por liberdade. Liberdade de pensar, de expressar o seu pensamento e até de viajar. É claro que estou falando de Cuba, cujo regime ditatorial e familiar está ali instalado há 50 anos. E é lógico que não se pode ser solidário com o anseio de liberdade dos árabes, lá no Oriente Médio, sem lembrar do povo cubano, que está aqui, bem pertinho, e que clama também por liberdade.

E o Brasil não pode ficar alheio a isso, até porque os cubanos, tal como os brasileiros, são latino-americanos e amam a liberdade. Aliás, acho que é chegada à hora do Brasil se posicionar politicamente a respeito. E, diplomaticamente, exigir o restabelecimento das liberdades democráticas do povo cubano, até porque não se pode admitir um reinado na América Latina, onde o rei, Fidel Castro, impossibilitado de exercer o poder, o transfere ao irmão, Raul Castro, que o exerce em toda plenitude.

O povo cubano não merece isso. E o governo brasileiro não pode aplaudir essa monarquia sem coroa, em Cuba, até porque derrubou o seu próprio imperador, D. Pedro II, em 1889.



Fonte: Publicado em O LIBERAL de 08/02/2012, 1º caderno, pág. 02

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