sexta-feira, 27 de abril de 2012

A angústia de um povo



Na última quinta-feira participei de uma audiência pública em Monte Alegre, promovida pela Assembléia Legislativa, para discutir as obras do linhão de 500 Kvolt que vai de Tucuruí a Manaus e Macapá, e que atenderá, também, os municípios da chamada Calha Norte.

É evidente, e isto ficou claro logo no início da audiência pública, que todos ali estavam preocupados, unicamente, com o rebaixamento da energia para atender os municípios daquela região. E a angústia daquele povo era tamanha, que lembrei-me dos anos 80, quando o linhão de Tucuruí à Vila do Conde passava pelas cidades e vilas da PA-150 que viviam às escuras, devido à falta do rebaixamento da energia que, aliás, só ocorreu quase 10 anos depois.


Essa era a angústia do povo de Monte Alegre e dos demais municípios do Baixo Amazonas, presentes naquela audiência pública, que, por óbvio, não queriam ter a mesma sorte dos municípios da PA-150, no que, é claro, tinha a minha solidariedade, e, por certo, dos ilustres representantes da Rede-Celpa, do Ministério das Minas e Energia e dos deputados presentes. E isto ficou tão evidente, que quando foi dito que estava assegurado o rebaixamento da energia, para atender todos os municípios da margem esquerda do rio Amazonas, a platéia vibrou de alegria.

E que logo após a energização do grande linhão, que dar-se-á em maio de 2013, a Rede-Celpa dará início na implantação da linha de transmissão em 138 Kvolt, que levará a energia de Tucuruí aos municípios da região. Tendo sido explicitado, ainda, que essa linha, com tensão rebaixada, será financiada com recursos da Eletrobras, o que animou mais ainda os presentes, visto que muitos entendiam que a Rede-Celpa teria dificuldade de fazê-lo, devido a sua atual situação financeira.


É lógico que com esses dados a população ficou mais tranquila, até porque muitos imaginavam que o linhão de Tucuruí para Manaus estaria sendo construído por causa da Copa de 2014, o que me levou a dizer que a decisão de se fazer esse linhão ocorreu ainda em 2005, quando eu era presidente da Comissão de Minas e Energia, da Câmara Federal.

Mas o gostoso, daquela audiência pública, foi a oportunidade de se mostrar o projeto desse linhão, de 500 Kvolt, que sai da hidrelétrica de Tucuruí rumo à Vitória do Xingu, seguindo em paralelo ao traçado da Transamazônica. De lá segue pela margem esquerda do rio Xingu, atravessando a reserva extrativista “Verde para sempre” até a foz do rio Aquiquí, na margem direita do rio Amazonas, em frente à cidade de Almeirim, onde está sendo construída uma torre de 295 metros de altura para viabilizar a travessia do rio Amazonas até a ilha de Jurupari, e de lá para a outra margem onde bifurca, seguindo em 500 Kvolt para Manaus e em 230 Kvolt para Laranjal do Jarí e Macapá.

Ressalte-se que nesses linhões, graças às exigências do Ibama, as torres terão 80 metros de altura para que os fios fiquem acima das árvores, daí a fiação das torres e a sua manutenção serem feitas por helicóptero. Tudo isso para evitar o desmatamento da floresta, para a chamada faixa de servidão. E assim, as torres serão fixadas em meio às árvores, sendo desmatado, apenas, a área correspondente à área da base de cada torre.

É claro que esse cuidado com o meio ambiente, com a manutenção da floresta, é profundamente elogiável. Contudo, é bom lembrar que todo esse cuidado, somado ao fato da fiação das torres e da sua manutenção ser feita por helicóptero, tem um custo. E esse custo será pago pelos consumidores. Ninguém fala disso. Mas é sempre bom lembrar.

De qualquer forma, com torres altas ou baixas, com ou sem faixas servidão, o importante é que esses linhões estão sendo construídos e irão levar às populações do extremo Norte e Noroeste deste País uma energia firme, que permite a instalação de indústrias de toda ordem, gerando emprego e renda. E no caso específico do linhão de Manaus, espero que logo seja estendido até Boa Vista, em Roraima, e de lá até a Venezuela, interligando com a hidrelétrica de Gury, para que no futuro, pelo sistema de compensação, o Brasil possa usufruir da energia da bacia do rio Orenoco, cujo regime hidrológico é semelhante ao da bacia do Prata, e, por conseguinte, diferente da bacia amazônica.


Fonte: Publicado em O LIBERAL de 25/04/2012, 1º caderno, pág. 02

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