quarta-feira, 28 de março de 2012

O DRAMA




Para os estudiosos de hidrologia, o Tocantins, Xingu e Tapajós, são os rios trigêmeos do Brasil, tal a semelhança entre eles, inclusive no que tange ao potencial hidrelétrico. E ao olharmos o mapa do Brasil, veremos que esses rios e os seus maiores afluentes, nascem no planalto central, como é o caso do Tocantins e Araguaia, que nascem na região do cerrado; bem como o Xingu e o Iriri, e do mesmo modo o Tapajós e o Teles Pires, que nascem em Mato Grosso. E o fato de nascerem no planalto central os leva a um mesmo regime hidrológico, até porque recebem em suas nascentes, as águas das chuvas que lá ocorrem a partir de outubro.
E essas águas viajam rio abaixo e, em dezembro, começam a chegar nas regiões de Marabá no Tocantins, de Altamira no Xingu e de Itaituba no Tapajós. Tempo em que começam as chuvas do chamado inverno amazônico, que se intensificam em razão do verão que provoca o degelo da Cordilheira dos Andes, inundando a floresta e enchendo os rios e igarapés que são tributários do alto rio Solimões. E a partir daí, as chuvas do inverno amazônico passam a comandar os acontecimentos, uma vez que inundam todo o médio Tocantins, o médio Xingu e o médio Tapajós. Mas, ao ocorrer isto, essas regiões já estão inundadas pelas águas que vieram do planalto central. É quando acontecem as enchentes de Marabá, de Altamira e de Itaituba. E quando essas águas descem rio abaixo, para desaguarem no Amazonas, este está cheio com as águas do degelo dos Andes e dos tributários do Solimões represando as águas do Tapajós, do Xingu e do Tocantins. É quando ocorrem as enchentes de Porto de Moz no baixo Xingu e de Santarém no baixo Tapajós. E o mesmo acontecia com Cametá, antes da construção da Hidrelétrica de Tucuruí, que, hoje, represa em grande parte um enorme volume d´água do Tocantins.



Porém, as enchentes do médio Tocantins, do médio Xingu e do médio Tapajós, sempre ocorrem no mês de março, no ápice do inverno amazônico. Contudo, neste ano, dias atrás a Eletronorte anunciou a abertura das comportas da hidrelétrica de Tucuruí, devido ao volume d´água ter chegado ao limite daquela represa. E em Altamira, o rio Xingu invadiu a cidade e inundou as margens dos igarapés que entrecortam o seu centro urbano, o que levou a prefeitura local a agir, preventiva e emergencialmente, transferindo 107 famílias para o parque de exposição agropecuária daquela cidade, onde as lojas foram transformadas em alojamento, além de outras 100 famílias que já estão alojadas em casas de parentes e amigos.

Este é o ritual de todos os anos, a cada inverno. O rio Xingu enche, transborda e inunda as margens dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas, dentro do centro urbano de Altamira, obrigando o remanejamento das famílias ali residentes, em face dos riscos com a saúde, especialmente no que tange as doenças infecciosas, devido, principalmente, a contaminação da água.

Esse é o drama de todos os anos que a prefeitura de Altamira administra e que só será resolvido, em definitivo, quando a Norte Energia S/A construir os conjuntos residenciais para instalar essa população, que reside nas palafitas das margens dos citados igarapés.

É essa população urbana, residente nesses igarapés, que será remanejada, não por causa de Belo Monte, como apregoam aqueles que são contrários a implantação da hidrelétrica, mas, sim, graças a Belo Monte, até porque a prefeitura local jamais teria condições financeiras para fazê-lo. E esta ação, é uma das condicionantes ambientais de Belo Monte. Aliás, pelo que está programado, todas essas famílias serão transferidas para residências construídas em alvenaria, dentro dos padrões de higiene, e fora das áreas inundadas.

Mas, voltando a enchente do rio Xingu deste ano, não há dúvidas que Altamira já está em “situação de emergência”, daí o desalojamento de mais de 200 famílias que residem nas margens e no entorno dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas, dentro do centro urbano daquela cidade. E, por óbvio, a Prefeita já deveria ter decretado “situação de emergência”, até mesmo para receber ajuda para aquela população que não pode ficar desassistida, com pelo menos cestas básicas, medicamentos e água potável, até que as águas do Xingu voltem ao seu nível normal.

Fonte: Publicado em O LIBERAL de 22/02/2012, 1º caderno, pág. 02

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