quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Carnaval e o Forró


Fala-se que, no Brasil, o ano efetivamente só começa após o carnaval. E eis que essa festa, que, indiscutivelmente, é a maior do nosso país, deveria de fato encerrar-se na quarta-feira de cinzas. Contudo, graças as “prorrogações”, o carnaval acaba se encerrando, no Rio, por exemplo, no desfile das campeãs, na Marquês de Sapucaí. No Recife, só depois do encontro do Galo da Madrugada com o povo do Maracatu. Em Salvador, “só não vai atrás do trio elétrico quem já morreu”... E assim por diante.

Mas, começando o ano agora ou não, o fundamental é que o Brasil viveu a sua maior festa: o carnaval. E o Rio, como sempre, é o centro das atenções, todos na expectativa do que poderá ocorrer naquele colossal espetáculo que é, sem dúvida, o desfile das Escolas de Samba do grupo especial, cujas imagens são transmitidas para mais de 100 países, numa oportuna divulgação da “cidade maravilhosa”, neste tempo que precede a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.


Na verdade, o carnaval é o maior evento turístico do Brasil e que trás milhares de estrangeiros para o Rio que, naturalmente, disputa a preferência com Recife, Salvador e Fortaleza, cujos hoteis têm uma taxa de ocupação superior a 90%, no período, daí a prorrogação da festa, sempre com novos eventos, para manter o turista se divertindo e gastando o seu dinheiro nessas cidades.

Porém, o carnaval não é apenas festa e espetáculo para turista. É também um meio de informação, de conhecimento e de cultura para nossa gente, através de desfiles como o da Escola de Samba Unidos da Tijuca - a campeoníssima deste ano no Rio, que, ao homenagear o grande Luiz Gonzaga, levou os jovens de hoje a entender que “forró” não é um ritmo, e sim uma festa do povo nordestino que, ao som de uma sanfona, de uma zabumba e um triângulo, faz-se o “baião”, o “xote” e o “xaxado”, que são os ritmos e as musicas mais autenticas do Nordeste brasileiro.


Hoje com certeza, após o desfile da Unidos da Tijuca, muitos passaram a entender que o “baião”, o “xote” e o “xaxado” são ritmos musicais que se tornaram famosos na voz do inigualável Luiz Gonzaga – o rei do baião, o rei do xote, o rei do xaxado. E o “forró”, é apenas a festa onde se canta e dança essas músicas. Daí o saudoso gonzagão ser chamado, também, de o rei do forró.

Sinceramente, a Unidos da Tijuca está de parabéns. Não só pelo espetáculo que foi o seu desfile na Marquês de Sapucaí, mas, principalmente, por resgatar a obra de um dos maiores ícones da música popular brasileira e o maior dentre tantos, que defendiam e defendem a verdadeira e autêntica música nordestina, do chamado “pé de serra”. E com isso, imaginam os defensores das nossas tradições musicais, que, a partir de agora, vão poder participar dos “forrós”, ouvindo os baiões, xotes e xaxados de Luiz Gonzaga, como a inigualável “Asa Branca”, “Assum Preto” e muitos outros. Aliás, o que não pode acontecer, são as pessoas serem convidadas a participar de um “forró” e quando lá chegam ouvem todo tipo de música, menos o velho baião pé de serra, o xote e o xaxado, c omo que se estivessem inventando um forró news!

É evidente que o Brasil, até mesmo por suas origens, é um país riquíssimo na sua música e na variedade dos seus ritmos. E devemos nos festejar por isso. Contudo, sem deixar de manter as nossas tradições e o nosso folclore, até porque fazem parte da história da nossa gente. Aliás, neste particular, algo precisa ser feito, e já, pois do contrário, em breve teremos que nos juntar a Alcione e cantar: “Não deixe o sambar morrer. Não deixe o samba acabar...”

Este é um alerta, um apelo, não de um profissional da música, mas de um apaixonado pelo samba, pelo chorinho, pelo baião, pelo xote de Bragança, cuja dança é diferente da do xote nordestino; bem como do nosso carimbó que dança-se ereto em Marapanim e Curuçá, e agachado na Vigia.



São essas tradições que precisam ser conhecidas, defendidas e mantidas às futuras gerações. E dentro deste contexto, cumprimentemos o Rancho “Não Posso Me Amofiná” que, neste ano, sagrou-se campeão do carnaval relembrando o tempo de criança e resgatando o “pião”, que era jogado nas ruas de Belém e que hoje, lamentavelmente, foi substituído por instrumentos utilizados em assaltos, pelas nossas crianças.

Fonte: Publicado em O LIBERAL de 29/02/2012, 1º caderno, pág. 02

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